sábado, 24 de julho de 2010

Saudosismo

Em um asilo aparentemente normal e bem tratado, havia uma senhora um tanto diferente dos outros.
Ela era lúcida, incrivelmente forte e sua saúde superava a de qualquer um que ali habitava, porém, ela era afastada de todos. Ninguém a afastava de seus "ciclos sociais", ela mesma que se oprimia e isolava de todos os seus companheiros.
Não que ela fosse emburrada ou que não se "misturasse", ao contrário, era simpática e bondosa em todas as raras vezes que falava algo com alguém.
Nas atividades em grupo, dava uma desculpa para não as fazer. Vivia em seu quarto, às vezes olhando para fora da janela como se desejasse virar um pássaro e voar, voar para sua plena liberdade.
Não dava trabalho às enfermeiras e responsáveis pelo asilo, pelo contrário, todos gostavam dela apesar de tudo. Caminhava pelos jardins sozinha, admirando flores, árvores e arbustos pelo caminho. Nunca era visitada, aliás, essa era a triste realidade da maior parte dos idosos daquele asilo...
Em uma visita escolar, um menino que não passava dos treze anos de idade, percebeu que aquela senhora não sentava perto dos outros, não fazia tricô junto, não almoçava junto, pouco falava. Seria timidez?
Quando questionada por que não andava com seus companheiros, ela o olhou com surpreendente ternura e carinho , tirou da manta que cobria suas pernas uma foto antiga de um homem, e disse: "Porque meu único companheiro, aquele que me compreendia e me protegia, não está mais comigo há treze anos."
Desse dia em diante, o garoto dispôs-se a visitá-la diariamente.

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